O que é um render? Apenas uma imagem para ganhar concursos e clientes? Ou é uma ferramenta eficaz para o desenvolvimento de um edifício?
Perguntamos a nossos leitores quais são os limites da renderização no desenho arquitetônico, e a quantidade de respostas foi imensa. Depois de ler e compilar todos os comentários recebidos de profissionais da construção, estudantes e pessoas interessadas em arquitetura, há um grande consenso de que devemos pensar não apenas na renderização como um elemento de venda, mas como um elemento chave na verificação do projeto.
Isto faz sentido, dado o uso generalizado destas ferramentas na prática contemporânea. 50% dos leitores participantes disseram que sempre usam renders, enquanto 49% disseram que só os usam quando necessário e apenas 1% nunca os usam. Este tipo de ferramenta já é realmente uma parte inerente da prática. Ao mesmo tempo, eles indicaram que quando se trata de escolher um software de renderização, os favoritos são V-ray, Twinmotion, Lumion, Enscape e Artlantis. Programas que se destacam por sua capacidade de definir parâmetros precisos e fáceis de usar e que, ao mesmo tempo, em alguns casos, fornecem renderização em tempo real.
Abaixo, nos debruçamos sobre os pontos de vista positivos e negativos mais recorrentes entre nossos leitores:
Ponto de vista 1: Não se trata apenas de um elemento de venda, mas também de verificação
Como trabalhamos no projeto a partir do software de modelagem paramétrica, o modelo 3D, e depois o render, tornaram-se um elemento de verificação que usamos durante todo o processo de projeto. Não é mais aquela peça gráfica que enviamos para ser feita como um elemento de venda. Hoje é muito simples obter uma visão panorâmica imersiva para verificar se nosso projeto está se desenvolvendo como o imaginávamos e para comunicar nossas ideias aos clientes (ou poderiam ser nossos professores). Acho que ainda estamos muito longe de atingir os limites de renderização no processo de projeto. Para isso, teremos que fazer com que a realidade aumentada e a realidade virtual (que são formas de renderização em tempo real) se tornem parte das ferramentas cotidianas do arquiteto, assim poderemos passar a trabalhar com desenho imersivo e então talvez possamos nos colocar esta questão novamente. – Arquiteto da Argentina
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Não acredito que haja limites, a renderização é uma ferramenta para mostrar ao cliente como o projeto será desenvolvido, tipo de acabamento e as possíveis formas que a proposta terá, não considero a renderização como um meio para fechar um contrato ou ganhar um concurso, acho que a mídia como o software de design 3d deve trabalhar principalmente para nos ajudar junto com o cliente a visualizar uma possível opção de desenho. Sei que é chocante para as pessoas fora do assunto, poder visualizar uma obra virtualmente, mas esse gancho às vezes pode ser enganoso para o cliente final. Agora, se eu achar que existem limites e um seria "não abusar da capacidade de espanto" que pode gerar em clientes que não conhecem o processo de projeto ou uso deste tipo de software para obter o contrato. – Arquiteto do México
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Não faz absolutamente nenhum sentido não renderizar. A arquitetura tornou-se tão precisa que não utilizar softwares de renderização durante o projeto não só é contraproducente, mas também muito irresponsável para a profissão e o contexto. Precisamos mudar radicalmente nossas práticas para produzir um ambiente construído mais sustentável. Para saber exatamente o que estamos produzindo durante o processo de projeto, precisamos de visualizações realistas, quer queiramos quer não. Precisamos trazer todas as nossas ferramentas para a mesa se quisermos resolver a confusão em que estamos nos metendo como espécie. – Arquiteto da República Tcheca
Para mim, os limites das imagens renderizadas é a "possibilidade real", pelo menos no meu caso profissional eu só faço renderizações que representam a possibilidade real de um projeto, porque a imagem é uma grande oportunidade já apela para a emoção e sensibilidade das pessoas, uma imagem que faz uma promessa de fantasia pode gerar uma grande decepção no cliente, que é para quem a imagem é feita. Muitas vezes os renderizadores fazem imagens pensando em si mesmos ou em seus colegas e não em quem precisa delas para entender seu próprio projeto, acho que isso não pode ser perdido. Meu limite está na verdade e um dos parâmetros disso, por exemplo, é não alterar a imagem para que os espaços pareçam maiores ou outras "manias" de renderização. A arquitetura é habitável e o render deve ser apenas uma ponte emocional para esse habitar, mas será o habitar real que finalmente dirá se a promessa colocada na imagem foi cumprida ou não. - Um arquiteto chileno.
O render não deve mais ser tomado como um documento, mas como uma ferramenta. Ele se tornou hoje a ferramenta mais importante no processo de projeto, eu diria mais até que o modelo e as plantas. Limitar o render como imagem final do projeto com um objetivo de comunicação é um erro; o processo de desenho deve ser auxiliado desde o início (os primeiros croquis) pelos renders, de modo e criar um processo muito mais dinâmico, comprovado e preciso. Sua importância é tal que se tornou até mesmo uma ferramenta importante na fase de execução da obra. – Arquiteto da Espanha
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Quanto aos limites da renderização como estudante, na minha opinião não existem, a modelagem e renderização em 3D tem sido um grande passo em direção ao futuro e é algo que foi muito fortalecido durante a pandemia, pois isto, ao contrário de fazer uma maquete física, nos permite entrar completamente em nosso projeto arquitetônico, verificar espaços e repensá-los, experimentar as materialidades que buscamos, etc. Em resumo, penso que, como estudante, o render está aqui para ficar, porque nos permite dar vida ao projeto e aproximá-lo do que queremos, além de podermos mostrá-los a nossos professores. – Estudante da Argentina
Ponto de vista 2: Falta um nível maior de interação (nossos limites são a tecnologia, a criatividade e a comercialização)
Acho que os renders são um dos maiores ativos da prática arquitetônica atual, mas ao mesmo tempo, sinto que eles podem tirar a beleza da descoberta quando se trata de como o cliente vê o edifício. Acho que às vezes isso pode até tirar a beleza do ofício do arquiteto, porque o tempo e os recursos gastos para criar um render hiper-realista podem se tornar um incentivo negativo para fixar uma imagem em sua cabeça, então você corre o risco de perder detalhes importantes devido a restrições de tempo. Em outra nota, acho que precisamos melhorar nosso jogo neste processo de tornar nosso design mais intuitivo e menos demorado. Por quê? Porque nos concentramos apenas em criar uma fração da história do edifício, ou seja, o lado visual, enquanto a arquitetura envolve muito mais do que isso, e eu acho que a beleza de descobrir o próprio projeto está ligada a muito mais do que apenas o visual. O melhor paralelo que posso pensar é como um modelo bem feito cria uma atmosfera poderosa que envolve vários sentidos para ser revelada, enquanto as representações se concentram apenas em um, embora seja um dos sentidos mais utilizados. – Estudante da Romênia
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Os renders ajudam a nos dar uma melhor perspectiva para tomarmos decisões sobre materiais, acabamentos, etc. No entanto, ultimamente há um certo abuso do render como uma imagem que escapa totalmente da realidade arquitetônica. Vemos alguns exemplos em propostas que não são implementadas in situ, ignorando o entorno e deixando de lado esse valor. Também vemos muita incidência em mostrar a melhor renderização fotorrealista, e uma má execução da documentação e/ou programa ou memorial. O render é útil, mas não devemos abusar de seu poder. – Arquiteto da Argentina
Os clientes se tornam muito dependentes das representações que fazemos, eles precisam ver cada pequeno detalhe materializado na representação, o que é desnecessário e muitas vezes nos prende nas decisões muito cedo, mesmo que as decisões mais gerais não tenham sido tomadas. Eles não parecem entender que as representações são conceituais. – Arquiteto dos Estados Unidos
O render mente. É apenas uma ferramenta para representar a arquitetura, mas não um ponto importante no projeto. Com isto quero dizer que hoje em dia muitos dos meus colegas se concentram em fazer um bom render, quando o que mais importa é a qualidade do espaço, o desenho do vazio, a sustentabilidade e o sustentável. Entretanto, é mais uma questão de marketing do que de arquitetura; de fato, na faculdade há cursos que ensinam estas ferramentas de representação. O render transgride a realidade, ele nos faz acreditar em algo que não é verdade, ele nos faz ver uma realidade aumentada que quando se cruza com a realidade não é mais perfeita. Na minha opinião, a arquitetura nasce no papel e uma perspectiva à mão vale mais do que uma imagem vista no computador. – Estudante do Peru
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Acredito que o grande avanço que foi feito nos últimos anos nas capacidades e no desempenho das ferramentas de modelagem e renderização, trouxe duas consequências negativas ao processo de projeto arquitetônico: por um lado, fez com que o conhecimento e o uso da perspectiva à mão fossem deixados de lado como ferramentas de desenho (não como ferramenta de apresentação, onde a vantagem da renderização é inegável) para explorar de forma ágil e precisa as qualidades formais e expressivas de uma proposta (com a consequente perda também da ideia de escala humana no modo de imaginar espaços, e, muitas vezes, do conhecimento da fotografia, como o enquadramento); e, por outro lado, caímos num abuso da facilidade com que modelamos e apresentamos com resultados impressionantes, para apresentar propostas (naturalmente, sem generalizar) que às vezes não têm sustentação suficiente do ponto de vista construtivo ou econômico. Neste último sentido, também acho que esquecemos que um render deve ser uma ferramenta para chegar ao fim de um objeto arquitetônico construído, e não um fim em si mesmo, o que às vezes é mais impactante e expressivo do que o edifício construído. – Arquiteto do México